Então (o camponês) descobre que, tendo sido capaz de transformar a terra, ele é capaz também de transformar a cultura: renasce não mais como objeto dela, mas como sujeito da história” (FREIRE, 1988)
1. Apresentação
A construção da autonomia relativa dos camponeses perante o capital tem como uma exigência política que o próprio campesinato seja capaz, de se constituir como uma organização de classe social camponesa. Nesse sentido, o MTC luta pela construção de um projeto popular de agricultura capaz de garantir vida digna no campo. Composto por camponeses e camponesas que lutam pela permanência dos sujeitos no campo, se organiza através dos grupos de famílias que se propõe a produzir alimentos saudáveis para o auto-consumo e, como o excedente, contribuir também comercializando para alimentar o povo Brasileiro. Assim, é na prática cotidiana de enfrentamento do capital que o campesinato se constrói como classe social. Dessa forma, o MTC está propondo um método de ensino e de aprendizagem que também luta contra a lógica do sistema capitalista baseado em classes sociais.
No processo de ocupação da educação escolar o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Campo vem produzindo algumas reflexões que dizem respeito à, concepção de escola e ao jeito de fazer educação numa escola inserida na dinâmica de um movimento social. No momento este desafio se alia e faz interlocuções fundamentais com o “Movimento por uma Educação no Campo” no Brasil.
Pode se afirmar que o espaço rural hoje está sem perspectivas, com o povo sem horizontes querendo sair dele, portanto, contribuindo cada vez mais para não haver escolas do campo. Assim, conforme o que nosso mestre da educação popular, Paulo Freire, nos disse em suas reflexões sobre a Pedagogia do Oprimido: a escola não transforma a realidade, mas pode ajudar a formar os sujeitos capazes de fazer a transformação, da sociedade, do mundo, de si mesmo. (FREIRE, 1987)
O camponês é uma classe porque está imerso em uma intencionalidade, e, como tal pode responder aos interesses da classe burguesa, ou integra, como neste caso, a lutados que vivem do trabalho no campo, retomando seu sentido e projetando sua emancipação.E lutando por essa emancipação é que o MTC cria o método camponês com jeito próprio de ensinar e aprender, onde está baseado nos princípios de organização, luta, resistência e produção. É um método de afirmação da educação camponesa, porque a luta dos camponeses e camponeses do MTC, não se resume a luta por apenas terra ou crédito, mas por direitos sociais. Desde sua fundação o MTC a educação do campo tem sido bandeira de luta e pauta pelo cumprimento da educação como direito do povo e dever do estado.
Enfim, o MTC luta por uma educação de qualidade no campo para os filhos dos camponeses e para os próprios camponeses, para que assim, eles não tenham que sair do campo para buscar uma vida melhor na cidade, e principalmente que também tenham condições de permanecer no campo e dele tirar o seu sustento e não perder sua identidade camponesa.
Portanto, o maior intuito de todos que fazem o MTC é levar aos trabalhadores e trabalhadoras a esperança de um campo forte, de uma agricultura livre de qualquer veneno, e principalmente de um futuro livre da dominação e opressão que o capitalismo propõe, bem como fortalecer a luta do campesinato por um mundo mais humano e livre do abuso exploratório e atroz.
2. Apresentação do Projeto Pedagógico do Método Camponês
O método camponês tem como proposta pedagógica ofertar uma educação diferenciada que atenda a questões específicas do próprio campo, como a permanência na terra e valorização da identidade camponesa. Uma educação voltada para realidade local, que corresponda às aspirações e necessidades da construção de uma identidade coletiva partindo do pressuposto dos conhecimentos já adquiridos pelas comunidades camponesas, deixados ao longo da história econômica, cultural, ecológica e social tendo com fundamento as diretrizes definidas na Resolução nº 1/ 2002 do CNE/CEB art. 2º parágrafo único, de 1 de abril de 2002 que afirma:
Parágrafo único. A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país. (BRASIL,2002)
A denominação Método Camponês foi escolhida para identificar a experiência pedagógica que garantirá educação ao povo camponês, por significar, sobretudo que esta escola acompanha toda vivencia da comunidade. Portanto o nome “método camponês ”consiste em propor um jeito de ensinar e aprender no campo.
Neste sentido, a emancipação dos camponeses será fruto da luta e do trabalhado dos próprios sujeitos camponeses que construíram a partir de sua prática e seus saberes, a liberdade da Terra e transformação da sociedade. Tem como objetivo geral ser um instrumento de ensino e aprendizagem a parti a realidade do campo e dos princípios organizativo do MTC.
3. Princípios norteadores do Método Camponês
Desde a consolidação do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Campo a educação do campo sempre fez parte das suas preocupações, levando-o a reconhecer a necessidade de apresentar uma proposta de escola do campo e para ocampo que surge no “chão”, nas bases do movimento. Mesmo sedo uma experiênciapiloto, o Método Camponês de ensinar e aprender vem com intuito de construir aescola queremos, com fundamento de suas práticas pedagógicas em Paulo Freire, onde sua inspiração e sabedoria gestiona uma educação libertadora.
Com base nesses princípios, o MTC propõe um método camponês de educação que tenha como pilares fundamentais:
I. A reafirmação da Educação “NO” e “DO” Campo como direito universal, a serviço do desenvolvimento humano e de campo que queremos;
II. O respeito à diversidade do campo em seus aspectos sociais, culturais, ambientais, políticos, econômicos, de gênero, geracional e de raça e etnia;
III. Que se evidencie o papel da educação na construção de um novo projeto histórico e que se fundamente numa teoria do conhecimento que parte da prática concreta e compreende o educando como sujeito do conhecimento;
IV. Que contribua com permanência dos sujeitos na terra com incentivo ao desenvolvimento sustentável e valorização da cultura e do território camponês;
V. Que fortaleça a identidade e cultura camponesa com defesa do território camponês, por consequência a agricultura camponesa e o processo histórico de organização do MTC;
VI. Que construa um processo educativo que enfatize a diversidade cultural egeográfica do campesinato, como condição promotora do protagonismo histórico dos sujeitos do movimento;
VII. Que tenha o Projeto Político Pedagógico como instrumento específico pararealidade do campo, para que estimule o desenvolvimento da unidade escolar como espaços públicos de articulação de experiências e estudos direcionados para odesenvolvimento social, economicamente justo e ambientalmente sustentável, em articulação com o mundo do trabalho;
VIII. Que se promova uma educação que respeite as diferentes diretrizes de formação voltadas para o desenvolvimento do ser humano, preocupada com a transformação social;
IX. Que se reconheça a relação do ensino/ aprendizagem não apenas como umprocesso lógico, mas também como um processo profundamente afetivo e social, pois relações horizontais estabelecem o protagonismo das pessoas e fortalecem nosso projeto de campo e de sociedade;
X. Que garanta a resistência dos povos do campo e a relação com o trabalho queestá vinculado ao cultivo da terra, onde se expressam a resistência sócio-cultural -política e econômica dos sujeitos coletivos que constroem e reconstroem diversas produções materiais a partir do trabalho desenvolvido no cotidiano;
XI. Que garanta a democratização da gestão escolar, que se concretiza na participação da comunidade, na gestão administrativo-financeira e na direção coletiva dos processos pedagógicos, de forma dinâmica e organizada pelos sujeitos do próprio campo;
XII. Que promova o desenvolvimento de políticas de formação de profissionaisda educação para o atendimento da especificidade das escolas do campo, considerando-se as condições concretas da produção e reprodução social da vida no campo;
XIII. Que os conteúdos ofertados devem ser prática e fornecer conhecimentoscapazes de influenciar no trabalho e na organização da vida. Deve vincular teoria e prática, preparando para uma cidadania plena e um trabalho concreto ajudando a entender e transformar a realidade
XIV. Que valorize a identidade da escola do campo por meio de açõespedagógicas que contenham conteúdos curriculares e metodologias adequadas às reais necessidades dos alunos do campo, bem como flexibilidade na organização escolar, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas de cada região;
XV. Que a educação seja instrumento de continuidade da luta em prol do resgate da dignidade e ao direito à educação, historicamente negada ao camponês, sendo repassado ao público atendido às experiências acumuladas pelo movimento.
4. Processo Metodológico
Portanto, o MTC busca avançar em processos de implantação de propostas pedagógicas que garantam o direito ao acesso e permanência com sucesso dos camponeses das comunidades/territórios organizados nos chamados dos grupos de base visando a possibilidade de se promover uma melhor qualidade de vida.

O método camponês visa criar um novo jeito de ensinar, aprender e reaplicar o conhecimento popular dos camponeses que há milhares de anos foi transmitido para avida contínua da humanidade. Assim, propõe ser um instrumento de educação popularpara despertar uma consciência crítica sobre a realidade do mundo capitalista em quevivemos.
Por isso o método segue os eixo temático abaixo como tema geradores para discursão e vivencia nos espaços educativos do MTC neste sentido e preciso leva em conta que a natureza do método e leva o campo pra sala de aula e a sala de aula para o campo nesta troca de conhecimento popular e cientifico se construir um novo jeito de ensina e apreender para isso e necessário que:
1) Agricultura camponesa e Agroecológica – Que o modelo de agricultura camponês seja respeitado como processo de produção capaz de alimenta bem o povo brasileiro garantido soberania alimenta e comida limpa sem veneno
2) Leitura contextualizada – Que a leitura seja voltada a fazer um autocrítica da realidade de mundo e do contexto atual do educando
3) Militância – Que através do debate militante da realidade construir um pensamento critico para transformação da sociedade forjando homens e mulheres novos para um sociedade nova rumo ao socialismo
4) Esportiva, cultura e criatividade – Que sejacomo pratica esportiva, cultura e criatividade desperte a capacidade no educando o desejo de luta por um mundo mais justo. ( eixo norteado para integração com as temática e com vida cotidiana)
Nesse sentido, para que o método possa dar certo, se faz necessário seguir alguns passos, a saber:
- Transmitir o conhecimento de forma dinâmica para os educandos;
- Ajudar os educandos a reaplicar os conhecimentos adquiridos;
- Registrar permanente o conhecimento construído coletivamente;
- Contextualizar os conteúdos escolares às experiências concretas de vida em comunidade;
- Respeitar o saber popular e escutando os anseios sobre a realidade da agricultura as forma de cultivar a terra;
4. 1. Currículo Temático
São propostos os seguintes temas a serem desenvolvidos:
A. Cultura e Identidade Camponesa
- Concepção de campesinato e território;
- Cultura popular;
- Música e cultura nordestina;
- Teatro do Oprimido;
B. Esporte e leitura
- Desenvolvimento da prática de esporte como instrumento de disciplina consciente, despertando o espírito de companheirismo;
- Estímulo à prática de leitura de forma lúdica e contextualizada;
C. Agricultura camponesa e Agroecologia
- Concepção de Agroecologia e cuidados com solo (mãe terra);
- Permacultura e práticas alternativas;
D. Educação popular e trabalho de base
- História, princípios e valores do MTC;
- Princípios da militância;
- Simbologia do MTC;
- História dos lutadores do povo;
- Conhecimento gerais sobre os Estatutos da Criança e do Adolescente, da Juventude e do Idoso;
- Concepção de luta de classe;
4.2. Formas de aplicação: estratégias metodológicas
Ação pedagógica do método camponês esta inspirada na vida do campesinato por isso ela se baseia na vivencia dos povos do campo neste sentido os pilares do método, são as palavras de ordem que esta na bandeira do MTC :organizar, lutar, resistir e produzir. Esta palavras expressa uma pedagogia própria do Movimento dos trabalhadores e trabalhadoras do campo – MTC que ao longo de sua historia percebeu que só possível organizar os camponês se compreende sua forma de trabalho.
Partido deste entendimento e que o método camponês esta organizado no processo de um roçado porque historicamente os camponês antes de planta na terra eles se organizar, quando planta eles estão lutando, quando chegar terra na lavora para aumentar a sustentabilidade do sistema de produção isso se chamar resistência e quando se colher isso produção ou seja e momento de celebra o fruto do trabalho.
O método camponês faz um contraponto com método ver, jugar agir e celebrar que ao logo do tempo foi utilizado no processo de educação popular desta vez o iremos centralizar dentro de um realidade educacional da pratica do MTC.
São os quatro passos pedagógico que Método camponês camponês se propõe a trabalha dentro dos espaço educativos do MTC nesta integração com o método ver, julgar, agir e celebrar que ajudam no planejamento das atividades levando em consideração a situação real, refletindo sobre ela, planejando e propondo ações, avaliando e por fim celebrando os resultados.
VER: A partir da realidade. O primeiro passo é procurar conhecer a situação da comunidade, ouvir seus problemas e suas necessidades. Olhar a realidade e encontrar nela os sinais positivos e negativos.
JULGAR: Iluminar a realidade. O segundo passo é para analisar, examinar, refletir, trata-se de ver e captar as causas ou raízes da situação. Refletir sobre a realidade – que sociedade queremos.
AGIR: Tranformar a realidade. O terceiro passo trata de apresentar propostas de ação. É importante, entender o ritmo da comunidade, respeitar o tempo da comunidade e focar em ações possíveis de serem executadas.
Avaliar: Refletir a nova realidade. O quarto passo é para fazer a revisão da caminhada, valorizando as conquistas, mesmo as pequenas e percebendo os erros. Ver de novo para um novo ponto de partida.
Celebra : O quarto passo é para celebrar as vitórias, conquistas, o aprendizado que veio do fracasso, esperanças, a união e a organização.
A pratica pedagógica do método camponês pode ser usada nos processo educativo de ensino do fundamental I e II no processo de alfabetização de jovens em adultos, na pratica da ciranda infantil, no processo de formação em inclusão digital e no processo de formação politica/trabalho de base para isto e necessário adequá-la pra realidade de cada areia que se pretende trabalhar dentro de uma proposta construtivista dos eixo principais do método: agricultura camponesa ,militância, Cultura e Identidade Camponesa e leitura contextualizada a realidade.
Vale ressaltar que se faz necessário também uma postura pedagógica que leva o método camponês a caminhar junto com a realidade das comunidades rurais de difícil acesso, respeitando calendário escolar e vida do povo do campo. Sinalizando assim um grande avanço no sentido de afinidade entre os processos formais de escolarização e as vivências e práticas educativas do movimento social organizado.